quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

ESCREVER UM TEXTO PARA LOCUÇÃO ( nossa, essa é D+)

A fase do tratamento da informação vem na sequência das fases anteriores. O tratamento de uma dada informação depende da forma como a procura e a selecção foram feitas. Deste modo, se as fases anteriores foram completas e sistemáticas, o tratamento é mais simples já que a hierarquização dos aspectos a tratar e a escolha do ângulo são previsíveis (Lagardette, 1998).

Se nas fases anteriores os factos são descontextualizados do quadro em que ocorreram, na fase de tratamento faz-se o inverso: recontextualizam-se os acontecimentos mas num quadro diferente, isto é, dentro do formato do noticiário (Wolf, 1987). Enquanto que nas fases anteriores a tarefa do jornalista era informar-se e compreender os assuntos, agora a sua missão é a de informar e fazer compreender os factos.
Para uma fácil compreensão da informação desenvolveu-se um estilo próprio que, no entanto, não implica uma uniformidade total no modo de redacção, assim como também não implica a perda de personalidade dos repórteres: é o chamado estilo jornalístico. Todavia, se existem diferenças no modo de escrever de jornalista para jornalista, existem também semelhanças bem vincadas próprias do estilo jornalístico: as mais importantes são a simplicidade, a concisão e a vivacidade (Crato, 1982). No entanto, existem outras.
Tendo em conta que o relato é a explicação daquilo que o repórter testemunhou e que se destina a todas as classes sociais, deve ser simples e claro. No entanto, «clareza não significa banalização, nem simplicidade significa abastardamento da língua» (Crato, 1982 p:122).
A simplicidade é uma característica que o jornalista adquire com a prática. Deve utilizar frases curtas e com o mínimo de expressões, pois estas facilitam a compreensão do ouvinte e permitem ao repórter gerir a sua capacidade respiratória. O objectivo do jornalista é conjugar a clareza com o rigor da linguagem. Para isso, deve ser directo e conseguir dizer o máximo de informação no menor número possível de palavras. As informações devem ser concretas, apresentadas de forma directa e clara. É preferível utilizar palavras pequenas, conhecidas e concretas. Exige-se também a capacidade de encadear logicamente as ideias e evitar repetições (Lagardette, 1998).
Ao escrever com simplicidade e concisão, o jornalista confere vivacidade ao discurso. Para não proferir um relato seco e fastidioso, o repórter deve cativar a atenção dos ouvintes tornando a sua leitura o mais viva possível. As notícias devem ser escritas com sentido humano da realidade e não num estilo impessoal (Crato, 1982). Os verbos na voz activa, assim como a redacção no presente, além de simplificarem a frase, são um auxiliar importante para a vivacidade. Qualquer notícia tem de ser redigida de forma clara, concreta e concisa devendo sempre identificar as pessoas envolvidas pelo nome, cargo ou funções.
A peça é o relato da informação que o repórter apurou ou visualizou no local.
O Lead (ou abertura) constituí o primeiro parágrafo em que é dado o essencial da notícia. Ao ler o lead, o locutor profere as primeiras palavras do texto. Estas devem captar a atenção do ouvinte para que queira saber mais e ouvir a notícia até ao final. No lead deve indicar-se logo qual o ângulo que irá ser tratado ao longo da notícia e qual o facto novo que se pretende transmitir (Ganz, s.d.). O lead não deve ser uma frase negativa, nem interrogativa e também não deve ser uma citação entre aspas (Lagardette, 1998).
Em rádio, é sempre necessário tratar a última frase. Isto porque, para além de ser aquela que fica no ouvido e fecha o ângulo, a última frase funciona como rodapé e pode fazer ligação com outro tema.
O jornalista de rádio deve "escrever rápido" para que na leitura se tenha a sensação de rapidez, o que se atinge mediante a utilização de frases curtas, palavras breves e vivas. Expressões como "por outro lado", "entretanto", "assim", advérbios de modo e adjectivos devem ser evitados porque enfraquecem a frase e demoram a leitura. Sempre que possível, os verbos devem estar no presente do indicativo já que conferem a ideia de actualidade à notícia. O condicional deve ser evitado porque reduz o impacto da notícia e a voz activa deve prevalecer em relação à voz passiva (Crato, 1982). Tendo em mente que o ouvinte tem uma capacidade limitada de memorização, são aconselháveis frases curtas com uma só ideia e o mais importante da ideia deve estar no início da frase.
O uso de termos estrangeiros ou técnicos deve ser evitado, no entanto, se forem indispensáveis deve dar-se de seguida a sua explicação. Também as siglas devem ser sempre precedidas, na primeira citação, do nome completo de que foram formadas, excepto se elas próprias forem tão difundidas como o organismo que representam (é o caso da TAP, por exemplo).
Os títulos, sejam eles profissionais, universitários ou nobiliárquicos, devem ser eliminados sempre que representem uma forma de cortesia, exceptuando-se quando constituam um elemento útil para a compreensão da notícia (Lagardette, 1998).


O uso de linguagem figurada - metáforas, alegorias, eufemismos, etc. - deve ser dispensado já que a notícia de rádio se dirige a toda a população inclusive aos analfabetos. Muito embora o uso da linguagem figurada constitua um poderoso factor estilístico, o seu emprego pode comprometer seriamente a informação, contrariando o objectivo jornalístico e gerando confusão ao ouvinte.
Em suma, jornalismo não é literatura e se alguma modalidade jornalística se pode prestar a concessões literárias, não é o caso da notícia.
O texto deve ser sempre lido antes de ir para o "ar" e, se necessário, reformulado. Uma peça extensa torna-se cansativa, neste caso, o locutor deve cortá-la com uma intervenção justificada e que introduza um avanço na peça (Ganz, s.d.).

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